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Mas o que é vida, afinal? Por Georges Canguilhem: filósofo, médico, historiador das ciências da vida
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Palestra originalmente proferida em 21/04/2020 no 1o “UEAPdigital” – Congresso Online da Universidade do Estado do Amapá. A palestra percorre algumas das ideias dispostas no artigo “Vida”, publicado por Canguilhem em 1973. Esse artigo se inicia com uma seção sobre “A gênese do conceito de vida”, em que se faz uma história da formação do conceito científico de vida, desde as primeiras tentativas do pensamento ocidental de sistematizar o conhecimento da vida, na Antiguidade, até o surgimento do conceito científico de vida que surge no limiar do século XVIII para o século XIX. Também é nessa seção que se anuncia o fim próximo da reflexão biológica sobre a vida, uma vez que a partir de meados da década de 1960, passou-se a praticar nos laboratórios uma espécie de “biologia sem vida”. Um dos autores aos quais Canguilhem recorre nesta seção é a Michel Foucault, bem como aos próprios biólogos como François Jacob (“não se pergunta mais sobre a vida nos laboratórios”), além de físicos como Schrödinger (“O que é a vida?”). Na seção seguinte, o autor invoca Gaston Bachelard para fazer uso de seu conceito de “obstáculo epistemológico”, desta vez em relação com as ciências da vida. Canguilhem fala em duas espécies de obstáculos ao conhecimento científico da vida: o primeiro, um obstáculo psicanalítico (o desejo de metamorfose), o segundo um obstáculo de interesse técnico, superado por exemplo com a invenção do microscópio que possibilitou a revolução pastoriana. As quatro seções seguintes descrevem quatro formas de conhecimento da vida: a vida como animação, esse “animismo” que perpassa o pensamento ocidental desde Aristóteles até os animistas do século XVII, além da tradição judaico-cristã; a vida como mecanismo, o “mecanicismo” que surge como reação ao animismo entre os séculos XVII e XVIII; a vida como organização, cuja raiz retroage novamente a Aristóteles, mas é revigorada como uma alternativa tanto ao animismo quanto ao mecanicismo, agora com uma nova tradição do pensamento fisiológico representada na França por Bichat e numa filiação que irá até Cuvier, Comte e Claude Bernard; e finalmente a vida como informação, em atenção à revolução genética operada em meados das décadas de 1950-1960, com a descoberta da estrutura do DNA. Por fim, há ainda uma seção sobre “A vida e a morte”, em que se busca defender a tese de que a reflexão sobre a vida não pode ficar restrita ao âmbito científico, resguardando-se um papel axiológico e reflexivo à filosofia: o de valorar a vida, enquanto resistência à morte.